Nós somos ricos

Mariana Hanssen
2 min readApr 9, 2021

Nós somos ricos!

Dois jovens baianos gritam ao chegarem à praia de Imbassaí. Eles não tinha nada nas mãos e quase nada nos corpos, um calção de banho e um par de chinelos. E eles gritam mais alto em coro, uma segunda vez: “nós somos ricos”, olhando o azul cristalino do mar, que se encontra com a água doce e cria uma piscina natural.

Semanas mais tarde, em Olinda, um senhor na rua conversa com seu amigo de longa data: “Sabe, Zé, minha filha se mudou pra França e me envia roupas de marca… E eu nunca tive nada, pegava meus chinelos no lixo”. Um suspiro. “Mas quando eu começei a usar as roupas que ela me mandava, as pessoas começaram a me chamar de “Doutor”… E olha, ser chamado de Doutor, pra mim, é uma ofensa. Eu não quero viver que nem os “doutores”.

O Brasil é tão grande em sua complexidade como é em sua beleza. Pouca gente sabe.

Os tempos são de inquietude e de incompreensão. Eu sinto as pessoas cada vez mais irritáveis. Desse lado do Oceano, no Velho Continente, são ondas de insatisfação diante de marinheiros que não sabem direito lidar com imprevisão demais, poucas liberdades, pouca autonomia. Eles não têm mais paciência pra nada. E interessante falar de privilégios por aqui, porque fala-se muito de consciência de classe, e tantos outros termos que representam grupos, mas muito pouco se fala de si mesmos equanto indivíduos, de reconhecimento de privilégios na vida real. E menos ainda de abrir mão deles.

Ha um descontentamento fácil, uma falta de reconhecimento da sorte que se tem. Uma dificuldade enorme em ser feliz.

Eu brindo aqui a sabedoria popular — quanto custa ser feliz como os dois jovens baianos e o senhorzinho de Olinda?

--

--